Edições portuguesas de Propaganda, de Edward Bernays
Comunicação
07-05-2024

A bíblia da propaganda

LUÍS PAULO RODRIGUES

O livro “Propaganda”, do austro-americano Edward Bernays (1891-1995), editado pela primeira vez em 1928, está para as áreas da comunicação, do marketing e de relações públicas como a “Bíblia Sagrada” está para a religião católica. Está lá tudo. Ou quase tudo. Se vivesse hoje, Bernays seria um “influencer”. E, provavelmente, o maior deles.

Edward Bernays, que era sobrinho de Sigmund Freud, tornou-se uma referência para os profissionais da arte de comunicar, porque, no livro “Propaganda”, foi o primeiro a formular temas como “projetos de relações públicas”, “segmentação de públicos”, “colocação de produtos”, “lóbi político”, “comunicação orientada” ou “sedução dos prescritores”.

Como explico no meu livro “Comunicação – Riscos e Oportunidades” (Media XXI, 2016), “com estas ideias, que eram revolucionárias para a época, numa altura em que a sociedade de consumo ganhava terreno no mundo ocidental, Bernays, influenciado pelos conhecimentos de psicanálise de Freud, foi o primeiro a tentar convencer as empresas que precisavam de captar o interesse dos consumidores, influenciando o seu subconsciente, levando-os a ter necessidade de coisas que, na verdade, não precisavam”.

Passaram quase 100 anos, o tempo suficiente para que o significado da palavra “propaganda” tivesse mudado e assumido um sentido pejorativo na arte de comunicar, ou propagar, sendo atualmente mais associada à manipulação.

Luís Paixão Martins, um dos mais reputados especialistas portugueses em comunicação, é um fiel seguidor (outra palavra da comunicação contemporânea) das teorias de Edward Bernays. De tal modo que, pela segunda vez, é responsável pela edição portuguesa de “Propaganda”.

A primeira aconteceu em 2006, numa edição da Mareantes Editora. Infelizmente, uma edição mal conseguida, sobretudo por causa de alguns erros de tradução e/ou revisão. Soube recentemente, pelo próprio Luís Paixão Martins, que, na altura, o editor pediu-lhe o prefácio e que só conheceu a edição depois de impressa. E que, foi por ter ficado insatisfeito com o resultado que resolveu promover agora uma nova edição. Fez bem.

A nova “Propaganda”, agora editada pela Zigurate, trata-se de um livro enriquecido com um ensaio de Vasco Ribeiro, outro grande especialista em comunicação, sobre os primeiros profissionais da propaganda, um ensaio de Luís Paixão Martins acerca dos primeiros passos do conselho em relações públicas, além de uma tradução anotada e de bibliografia recomendada.

Como diz Luís Paixão Martins, “não tem comparação”. E, por isso, é uma obra indispensável para qualquer profissional de propaganda, ou melhor, de comunicação, marketing ou relações públicas. Mas, também, de leitura obrigatória para políticos e todas as pessoas que gravitam no gigantesco espaço público mediático.
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