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Comunicação Política
04-09-2015

Joana Amaral Dias. A nudez da candidata a deputada

LUÍS PAULO RODRIGUES

Uma imagem, qualquer que ela seja, é aquilo que vemos nela. Cada olhar vê uma imagem que é única. Até a mesma pessoa pode ver imagens diferentes ao olhar para a mesma imagem em momentos distintos.

Vem isto a propósito da imagem de capa da próxima edição da “Cristina”, uma revista portuguesa de “life style”, da apresentadora de televisão Cristina Ferreira, que mostra nua e grávida a psicóloga Joana Amaral Dias, ex-dirigente do Bloco de Esquerda e cabeça de lista por Lisboa da coligação Agir, nas eleições legislativas de 4 de Outubro. Com as próprias mãos tapando os seios, Joana Amaral Dias aparece envolvida pelo corpo do namorado, nu da cintura para cima e abraçando a companheira pelas costas de modo a cobrir-lhe a zona genital com as duas mãos.

jad na Cristina

O que eu vejo nesta imagem é uma candidata a deputada misturando, no espaço público mediático, a sua gravidez (um assunto da sua esfera privada) com a sua condição de candidata a deputada à Assembleia da República por Lisboa (um assunto da sua esfera pública).

Joana Amaral Dias não é a primeira mulher portuguesa conhecida publicamente a deixar-se fotografar grávida e sem roupa para a capa de uma revista. Mas é, seguramente, a primeira mulher da política a ceder à tentação.

A atriz Demi Moore, em 1991, causou polémica ao ter aparecido nua, grávida e sexy, na capa da “Vanity Fair”. Depois dela, outras mulheres participaram em produções do género, em publicações de maior ou menor expressão, aproveitando o momento da gravidez para criar imagens surpreendentes.

Até ao momento, a imagem de Joana Amaral Dias nua na capa da “Cristina” será o melhor cartaz político desta campanha eleitoral, desde logo, pela polémica que está a suscitar, o que resulta também do efeito-surpresa, dado que ninguém estaria à espera de ver a nudez de Joana Amaral Dias, uma política muito bonita, que, navegando ativamente nas águas da extrema-esquerda, soube utilizar os meios de comunicação para construir uma imagem política moderada e bem aceite, praticamente desde a fundação do Bloco de Esquerda, em 1999.

Olhando para a capa da revista, os mais atentos encontram agora uma explicação para o facto de Joana Amaral Dias ter vindo a público, em 18 de Agosto último, para anunciar que estaria a viver uma gravidez de risco que poderia prejudicar a sua participação na campanha eleitoral da coligação Agir, um pequeno grupo político constituído pelo Movimento Alternativa Socialista e pelo Partido Trabalhista Português. Na altura, assumiu a sua posição de candidata para explicar aos jornalistas que a sua revelação sobre a gravidez se trataria de uma posição de transparência em relação aos eleitores, postura que, na generalidade, até lhe mereceu elogios e motivos de admiração. Só que, afinal, o risco da gravidez de Joana Amaral Dias aparece agora estampado na capa de uma revista, a quem a candidata e futura mãe decidiu dar o corpo, desconhecendo-se as condições da produção, ao que parece, para “surpresa” dos parceiros da coligação política (confira aqui: http://goo.gl/3qgHbU).

Uma coisa é certa, como reconhece Gil Garcia, do Movimento Alternativa Socialista, um dos grupos da coligação Agir: a fotografia de Joana Amaral Dias nua e grávida na capa da revista de Cristina Ferreira “desvia a atenção das questões magnas do país, como a dívida pública e o combate à austeridade”. Mas esta capa faz muito mais do que isso, uma vez que, inevitavelmente, lança uma gravidez, que é um assunto de natureza particular, na campanha eleitoral, que é um assunto de natureza pública, sem que seja conhecida alguma medida política da coligação Agir, ou da sua candidata por Lisboa, especialmente destinada a aumentar ou promover a natalidade.

Saber se Joana Amaral Dias será beneficiada ou prejudicada pelo eleitorado do distrito de Lisboa é algo que vamos ver no próximo dia 4 de Outubro. Em princípio, tudo dependerá da configuração mediática do caso nos meios de comunicação, pois será essa configuração mediática que será determinante para moldar a opinião dos eleitores.
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