O que Cristiano Ronaldo precisa para ser feliz
Cristiano Ronaldo é um ser humano e uma marca. Uma marca muito valiosa, que está presente nos mercados, nomeadamente sob a insígnia CR7. Uma marca indissociável da figura de Cristiano Ronaldo como futebolista e como homem.
Neste momento, Cristiano Ronaldo está a experimentar uma profunda erosão da sua imagem, precisando, por isso, de acionar rapidamente o seu plano de comunicação de crise, sob pena de cair no abismo, arrastando consigo o seu universo empresarial.
Perante comentários e análises profundas à polémica em que tem estado envolvido o futebolista Cristiano Ronaldo – que nesta temporada regressou ao Manchester United, o clube que o descobrira no Sporting Clube de Portugal, faz 20 anos em 2003 –, entendo o verdadeiro alcance daquela ideia não tão vaga quanto parece, que muitos políticos gostam de verbalizar, segundo a qual “investir na educação é investir no futuro”.
Ao mesmo tempo, dou por mim a comparar o final de carreira
de Cristiano Ronaldo com o de Luís Figo, igualmente formado no Sporting Clube
de Portugal, numa geração anterior, outro grande jogador e líder da seleção
portuguesa e dos grandes clubes onde construiu uma bonita carreira
internacional, designadamente Barcelona, Real Madrid e Inter de Milão.
Luís Figo pendurou as botas quando sentiu que as pernas já não obedeciam às ordens do cérebro. Sem dramas, mudou de vida. Criou uma fundação com o seu nome, apostou na promoção do futebol entre as crianças e investiu em negócios.
Cristiano Ronaldo, que um dia confessou que a única coisa na vida que sabia fazer bem era jogar futebol, chega aos 37 anos e não dá mostras de querer abandonar o retângulo de jogo, mesmo que o corpo, que tantos recordes lhe deu no futebol, já não obedeça como antigamente.
Habituado a ser o centro das atenções e das decisões nos clubes por onde viveu os maiores sucessos da história do futebol, e na “sua” seleção de Portugal, Cristiano Ronaldo reage mal quando chega a Manchester e enfrenta um treinador que o trata como os demais.
Entre Cristiano Ronaldo e Luís Figo há uma diferença fundamental que, a meu ver, está na base dos problemas que a estrela madeirense está a viver. É que Cristiano Ronaldo só esteve 6 anos na escola e Luís Figo completou o 12⁰ ano, ou seja, esteve na escola o dobro dos anos de Cristiano.
Cristiano Ronaldo tem tanto dinheiro e está metido em tantos negócios que talvez nem ele saiba ao certo o que tem, confiando responsabilidades nas pessoas que estão à sua volta, ao que se sabe, familiares diretos e agregados.
Ronaldo passou os últimos 30 anos a trabalhar o corpo para ser o melhor. E conseguiu esse feito notável que é não ter sido abençoado pelo berço e transformar-se na máquina de jogar futebol mais autoconfiante do planeta.
Nesta altura, em vez de teimar em procurar mais recordes e
em continuar a arrastar-se pelos campos, destruindo a sua grande reputação como
futebolista de qualidade extraordinária, como homem inspirador e como figura de
Portugal mais conhecida em todo o mundo, Cristiano Ronaldo deveria estar já a
trabalhar de forma estratégica para deixar os relvados e transformar-se num
exemplo também fora dos campos de futebol.
O que mais me impressiona é que não haja ninguém ao lado de Cristiano Ronaldo que lhe aponte o caminho de novas metas e objetivos para a sua realização futura. Alguém que aconselhe Cristiano Ronaldo, por exemplo, a ser um farol inspirador para milhões de jovens em todo o mundo, eventualmente, regressando aos bancos da escola para retomar e concluir a sua formação académica. Alguém que lhe diga que o grande recorde que ele agora deveria perseguir deveria ser o de se preparar academicamente para a gestão da fortuna incalculável que o futebol lhe proporcionou, sendo útil e inspirador para milhões e milhões de fãs no mundo inteiro.
Talvez assim, Cristiano Ronaldo, que tem uma vida nova à sua espera fora dos relvados e dos ginásios, continuasse a ser o melhor do mundo pela vida fora. E continuasse a ser admirado como ele precisa para ser feliz.
Cristiano Ronaldo ainda está a tempo de sair do futebol como merece: em grande e com os aplausos de todos nós. E para isso acontecer só precisa de saber sair e saber o que quer fazer nos dias de vida que tem pela frente.
Obs. - Artigo originalmente publicado no jornal Meios & Publicidade. Ver no link: https://bit.ly/3OrHj68.