Jornalismo
18-05-2012
Pedro Bidarra. O jornalismo precisa de marketing
O publicitário português Pedro Bidarra escreveu uma texto muito interessante sobre os desafios que se colocam ao jornal impresso, que deveria ser lido em todas as redacções. Numa crónica publicada no portal de economia “Dinheiro Vivo”, cuja versão impressa é distribuída sob a forma de suplemento com as edições de sábado do “Jornal de Notícias” e do “Diário de Notícias”, Pedro Bidarra diz que a sobrevivência dos jornais tradicionais passa por três coisas muito simples: um acordo entre empresas de comunicação que acabe com as notícias gratuitas através das edições digitais; uma reinvenção da edição em papel; e, finalmente, o marketing do jornalismo. Sim, o marketing do jornalismo, de que ninguém fala.Este texto de Pedro Bidarra – escrito após mais uma descida nas tiragens e vendas de jornais impressos –, deveria ser lido e analisado por administradores de empresas de “media” e, por directores editoriais, editores e jornalistas – profissionais que abominam o marketing. Mas Bidarra, que é um homem da publicidade, e que se afirma “fã de jornais, revistas, notícias, novidades e conhecimento”, tem toda a razão: em Portugal, as empresas de “media” não sabem comunicar os seus produtos. Eis as ideias mais importantes do seu artigo:
“Comprar um jornal deixou de ser um ritual. Era um ritual dos avós que se começou a perder na geração dos filhos e que os netos nunca sequer praticaram. Diz-me uma amiga, cultíssima, informada e leitora assídua de livros, que nunca compra jornais. Vê as novidades e os assuntos do dia na Internet. É verdade, eles estão lá e são os grupos de comunicação que os disponibilizam à borla. Diz-me gente dos ‘media’ que são assuntos tratados de forma diferente e menos profunda do que nos jornais e nas edições electrónicas pagas. Mas quem quer saber disso? Se já fiquei a saber qual é o assunto do dia, não vou pagar para saber mais. Nem sequer tenho tempo. O consumidor fica pela rama.”
“O resultado é perverso. Menos receitas, menos dinheiro para contratar melhores jornalistas, especialistas e consultores, menos gente nas redacções, menos investigação, menos reportagens, menos novidades enfim, menos Jornalismo e mais jornalismo pela rama. E mais opinião, que é coisa barata e que parece ser hoje a grande aposta do jornalismo. Curiosamente, e com a profusão dos blogs, opinião é o mais fácil de encontrar de borla na Internet.”
“Em primeiro lugar, os grupos de ‘media’ deviam pôr-se de acordo para deixar de oferecer notícias à borla. Deve ser difícil, já são concorrentes ferozes, mas não me parece que haja outra alternativa. Ou melhor há: o tal jornalismo pela rama, o “copy/paste” das “notícias” largadas pela Lusa, muitas delas com origem em grupos de interesses, o jornalismo da blogosfera, da curiosidade, do contra. Enfim, a desinformação.”
“A segunda coisa a fazer era reinventar o papel. Não tenho nenhuma fórmula mágica, mas sei que tem de ser diferente da Internet (hoje estão cada vez mais parecidos) e, sobretudo, tem de ter em conta que o consumidor mudou e que aqueles que compram o jornal estão a morrer (salvo seja) e os que estão vivos não encontram relevância no formato. Os formatos em papel são produtos velhos, mesmo quando feitos por novos. É preciso um rejuvenescimento que não apenas cosmético e gráfico – que é o que tem acontecido (e que, paradoxalmente, só confunde os velhos leitores) –, mais do que na forma na função. Se calhar já não é coisa para as velhas marcas do jornalismo e tem de aparecer outra mais adaptada aos tempos, mais inovadora e que rompa com o “status quo”: como aconteceu no princípio dos anos 70 com o “Expresso”.”
“A terceira coisa a fazer é o marketing do jornalismo. O marketing do jornalismo é muito mal feito. O jornalismo, na verdade, abomina o marketing. O jornalismo vive na convicção de que a sua importância para o mundo e para as pessoas é tão, tão evidente que basta dizer que existem. Mas os consumidores têm de perceber o que ganham em comprar um jornal. Têm de entender que benefício de lá tiram. Têm de saber o que estão a perder. E têm de entender que o valor de um jornal, ‘online’ ou ‘offline’, é muito maior do que o preço que ele nos cobra.
“1 euro por dia para ler um texto novo do Miguel Esteves Cardoso, a mim parece-me uma pechincha. 1,10 euro por um texto do Ferreira Fernandes também. E 3 euros por semana para ler um texto da Clara Ferreira Alves e outro do Miguel Sousa Tavares, a mim, parece-me de borla.”
“A estratégia de todo o sector devia passar pela revalorização do jornalismo. Se o bom jornalismo tem valor, então esse valor tem de ser promovido e cobrado. Sem isso não há liberdade, nem democracia, nem nada que valha a pena. E o mal triunfa.”
Pedro Bidarra, publicitário, em crónica no portal de economia “Dinheiro Vivo”, 18-05-2012
Link da crónica integral: http://goo.gl/x1S5CE