Obituário
09-01-2017
Zygmunt Bauman (1925-2017). O criador do conceito “modernidade líquida”
LUÍS PAULO RODRIGUESO sociólogo e filósofo polaco Zygmunt Bauman (1925-2017), um dos mais proeminentes intelectuais dos séculos XX e XXI, morreu nesta segunda-feira, dia 9 de janeiro, em Leeds, na Inglaterra, onde se refugiou em 1971, após ter fugido do nazismo, primeiro, e do comunismo soviético, depois.
Zygmunt Bauman foi o criador do conceito “modernidade líquida”, para caracterizar os tempos da pós-modernidade em que vivemos, e manteve-se no ativo praticamente até aos seus últimos dias de vida.
O sociólogo "reativou a noção de pós-modernidade e deu-lhe um conteúdo mais preciso, capaz de abranger fenómenos que marcam os novos tempos", segundo considera o jornalista António Guerreiro, no jornal "Público".
De origem judaica, o sociólogo deixou a Polónia com a sua família ainda na infância para fugir das perseguições nazistas. Mudou-se para a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, atualmente reduzida à Rússia), onde viveu até 1968, após ser expulso do Partido Comunista. Mudou-se depois para Tel Aviv (Israel) e, mais tarde, para Inglaterra, onde produziu a maior parte dos seus livros e outros escritos.
Para Zygmunt Bauman os tempos em que vivemos são “líquidos” porque tudo muda muito rapidamente. Nada é feito para durar, nada é feito para ser “sólido”, daí resultando, entre outras questões, a obsessão pelo corpo ideal, o culto das celebridades, o endividamento geral, a paranóia com a segurança e, até, a instabilidade dos relacionamentos amorosos.
Com esta visão inovadora, a ideia de uma sociedade líquida ganhou assim o poder de dar uma configuração à época atual, tal como Bauman a vê. Ou seja, "uma época caracterizada pelo triunfo da fluidez, do precário, do transitório, do permeável e do que não se deixa apreender com segurança", como escreve António Guerreiro.
Para Bauman, esta é a condição da sociedade em que vivemos, em todas as suas dimensões, tanto estruturais como superestruturais, tanto no plano material e económico, como no plano da vida afetiva e intelectual.
Na maioria dos seus livros, Bauman fala-nos, por isso, de um mundo de incertezas, um mundo de egoísmos, em que cada um só quer saber de si. “Nossos ancestrais eram esperançosos: quando falavam de ‘progresso’, referiam-se à perspetiva de cada dia ser melhor do que o anterior. Nós agora estamos assustados: ‘progresso’, para nós, significa uma constante ameaça de ser chutado para fora de um carro em aceleração”, afirmou recentemente, numa entrevista publicada pela revista brasileira “Isto é”. Ver aqui: “Vivemos tempos líquidos, nada é para durar.”
O padrão volátil dos relacionamentos e do consumo eram alguns dos temas caros ao sociólogo, que foram dissecados em livros que fizeram sucesso pelo mundo, tais como “Vida para Consumo”, “Tempos Líquidos”, “A Sociedade Individualizada”, “Modernidade Líquida”, “O Mal-Estar da Pós-Modernidade”, “Amor Líquido” e “Capitalismo Parasitário”.
A obra de Bauman foi reconhecida com diversos prémios internacionais, entre eles o Príncipe das Astúrias para a Comunicação e Humanidades, em 2010.