Aeroporto de Beja Fotografia by Luís Paulo Rorigues 17052015
Penso, logo existo
10-03-2020

O segundo aeroporto de Lisboa está em Beja

LUÍS PAULO RODRIGUES

Quando ouço falar na ANA – Aeroportos de Portugal, a empresa que gere os principais aeroportos portugueses, lembro-me imediatamente de José Luís Arnaut, o advogado do PSD que liderou o processo de privatização da empresa, sendo agora o presidente do conselho de administração.

Nos aeroportos, José Luís Arnaut é, portanto, uma espécie de Joaquim Ferreira do Amaral – o ministro das auto-estradas de Cavaco Silva que, sem pudores, se transformou no presidente da Lusoponte, empresa que gere uma das pontes que ele próprio mandou construir.

É por isso que perceciono em Arnaut alguém que andou na vida política unicamente com o fito de defender os interesses privados. Seus e dos amigos. Foi assim que “vendeu” ao PSD dos tempos da “Troika” a ideia de transformar a Base Área do Montijo no segundo aeroporto de Lisboa, com o argumento de que seria mais barato para o erário público.

José Luís Arnaut
José Luís Arnaut. O antigo ministro do PSD é o presidente da ANA - Aeroportos de Portugal

Acontece que os ambientalistas e a Autoridade Nacional de Proteção Civil desaconselham vivamente essa opção por várias razões, entre as quais o perigo de cheias, a poluição sonora e a destruição da fauna do estuário do Tejo. Mas para o apetite voraz de Arnaut e dos seus amigos da política e do setor imobiliário o interesse público ambiental e social é uma questão menor.

Curiosamente, a ANA também administra o Aeroporto de Beja, uma infraestrutura construída pelo Governo de José Sócrates que, curiosamente, nunca foi aproveitada, pese embora ser o único aeroporto de Portugal capaz de receber aviões de grande porte, como o A380. O desaproveitamento do Aeroporto de Beja, que poderia funcionar como motor de desenvolvimento do Alentejo e do Interior – mais a mais num tempo em que os políticos vomitam políticas para o Interior que depois não vislumbramos com facilidade – só acontece porque a ANA, certamente, parece não ter interesse.

O Governo de António Costa tem de procurar rapidamente uma alternativa ao Montijo. Em minha opinião, essa alternativa está em Beja, não custa dinheiro, não tem obstáculos ambientais, corrigiria a bizarria nacional que foi a construção de um grande aeroporto na capital do maior distrito do país e permitiria agora abraçar um projeto mobilizador de criação de infraestruturas rodoviárias de apoio à economia com a ligação de Sines à Europa, passando por Beja. Aliás, a auto-estrada começou a ser construída e foi travada.

A escolha de Beja como segundo aeroporto de Lisboa permitiria ainda fazer o devido interface rodoferroviário entre o Alentejo e Lisboa, Algarve e Sul de Espanha. E com as devidas acessibilidades edificadas, o Aeroporto de Beja ficaria a uma distância um pouco superior a uma hora face a Lisboa. Ora, uma distância perfeitamente aceitável, quando comparada com outros aeroportos europeus localizados fora dos grandes centros urbanos.

Pensar no Aeroporto de Beja como um segundo aeroporto de Lisboa será contribuir para a descentralização do país e para o desenvolvimento do Interior, com impacto em toda a economia nacional. Não ver isto é ficar preso ao preconceito de quem quer ganhar dinheiro fácil à custa do crescimento desordenado de Portugal. Que o Governo tenha coragem para decidir contra os lóbis centralistas.


VOLTAR