Luís Montenegro e Pedro Nuno em ações de campanha
Comunicação Política
08-03-2024

Pedro Nuno e Montenegro: as estratégias de comunicação política

LUÍS  PAULO RODRIGUES

A campanha eleitoral para as eleições legislativas foi pobre: poucas propostas sobre os grandes temas que interessam à vida das pessoas; assuntos fundamentais ausentes; muitos cenários pós-eleitorais; e muita banha da cobra, sobretudo, em matéria de promessas de descida de impostos e aumento da despesa pública. Além disso, a generalidade dos candidatos incorreu no erro comunicacional de dar mais importância aos adversários do que a si próprios e às suas propostas eleitorais.

Do ponto de vista da comunicação – o ângulo de observação que me interessa – o mais intrigante foi observar a incapacidade do PS e, em especial, de Pedro Nuno Santos, para comunicar com os portugueses.

A narrativa de Pedro Nuno foi a de um candidato de fação que falou para os seus fãs e não a de um candidato que, para vencer as eleições, precisa de conquistar aqueles que não são do seu partido. Pedro Nuno não se revelou candidato a primeiro-ministro, mas candidato a líder dos eleitores do PS e da esquerda. Uma estratégia errática numa altura em que a maioria das pessoas não acredita nos partidos, nem nas ideologias, decidindo o seu voto por questões bem mais práticas.

Outro facto notório na campanha do PS foi o desaproveitamento do capital político de António Costa. Para uma campanha vencedora, Costa teria de ter acompanhado Pedro Nuno em todas as ações de campanha, tal e qual um capital do presente e não do passado. E haveria lugar para os dois. Em cada comício, Costa falaria do seu legado e Pedro Nuno Santos falaria unicamente das suas propostas para o país, como portador do sonho e da esperança como fazem os candidatos vencedores.

Num ano em que celebramos os 50 anos da democracia e da liberdade, também foi particularmente exasperante não termos ouvido os partidos democráticos responderem à ascensão do Chega nas sondagens. Deveriam ter demonstrado a necessidade de defesa da democracia e das suas conquistas, fazendo do legado de Abril de 1974 uma causa maior destas eleições. Pelo contrário, os principais candidatos a primeiro-ministro esqueceram-se do foco da sua mensagem e acabaram por dar importância ao inimigo da extrema-direita, nomeando-o em cada discurso.

Por oposição a Pedro Nuno, perdido a fazer as diferenças entre “nós e eles”, como se o primeiro-ministro de Portugal fosse uma trincheira entre os bons e os maus, Luís Montenegro, mesmo com uma Aliança Democrática mal atamancada, teve a capacidade de surpreender em plena campanha.

Em pezinhos de lã, Montenegro soube aguentar democraticamente os estragos feitos por alguns elefantes retrógrados da AD que lhe apareciam nos comícios e procurou falar diretamente para “as pessoas”, como apontou repetidas vezes. Por outro lado, a sucessiva aparição de antigos líderes na campanha da coligação de direita conferiu à liderança de Montenegro a capacidade agregadora que o socialista Pedro Nuno não conseguiu mostrar.

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